Por que me tornei professor?
Já por volta dos dez anos, apaixonado pelas aulas de Língua
Portuguesa e de Redação, pelos encantos da palavra escrita, pelo gosto e pelo
cheiro de uma boa história, anunciava a quem interessado estivesse que desejava
ser Jornalista. Jamais mudei de ideia - ao contrário, com o passar dos anos, a
convicção só fez aumentar.
No terceiro ano da Graduação - em Jornalismo, obviamente -,
comecei a trabalhar como estagiário no Sindicato dos Professores de São Paulo,
o querido SINPRO-SP. Continuei por lá depois de formado - e até hoje, agora
como colaborador, mantemos a parceria. É um prazer, um orgulho. São quase vinte
anos de aprendizados vivos e intensos (sim, os companheiros do Sindicato são
para mim referências intelectuais e éticas, exemplos de figuras humanas e de
mestres, no sentido mais profundo das palavras). Acompanhei e acompanho muito de perto as lutas, os sonhos,
as angústias, as ações políticas, as mensagens cidadãs, as vitórias e as
derrotas daqueles companheiros que sobretudo estabelecem a Educação como um
direito de todos - e um caminho para a conquista da liberdade e da autonomia
crítica. Foi inevitável e irresistível (ainda bem, muito obrigado!) - por conta
deles, tornei-me também professor.
Afinal, respeitadas as singularidades, o ser Jornalista e o
ser Professor estabelecem estreitas relações: é preciso ser curioso, humilde,
democrático, alimentar pelos saberes profunda devoção e respeito, apurar,
pesquisar, procurar sempre, organizar e sistematizar, saber ouvir. E estar
disposto a aprender sempre, a compartilhar informações e conhecimentos - seja
com o público (leitor, ouvinte, telespectador, internauta, seja com os alunos
em sala de aula). Nos dois casos, é fundamental estar atento às coisas do
mundo, rechaçando preconceitos e intolerâncias, truculências e autoritarismos,
valorizando argumentos e ideias e lutando pelo "bom, pelo justo e pelo
melhor do mundo", como diria a militante comunista Olga Benário.
Foi assim, por ser Jornalista apaixonado, que me tornei um
apaixonado Professor. E, entre aulas particulares, aulas na Graduação e na Pós,
lá se vão quase quinze anos de atividade docente. Não é fácil - o avanço do
espetáculo e do consumo, o individualismo e o "umbiguismo"
exacerbados, a consolidação de um conhecimento instrumentalizado, o falso
mantra que diz que as novas tecnologias resolvem todos os nossos problemas, a
mercantilização das relações humanas e profissionais, o desmanche político da
carreira, o esgarçamento do tecido social e a perda de referências e valores
que definem a humanidade e o ideal de civilização colocam muitas vezes o papel
do professor em um encruzilhada e fazem da profissão uma atividade social
infelizmente cada vez menos valorizada.
É preciso resistir. A cada dia. Todos os dias. Porque, como
lembram as palavras libertárias do mestre Paulo Freire, no livro
"Pedagogia da Autonomia", e transformadas em homenagem pelo Instituto
Paulo Freire neste ano, "sou professor a favor da decência e contra o
despudor, a favor da liberdade contra o autoritarismo, da autoridade contra a
licenciosidade, da democracia contra a ditadura da direita ou da esquerda. Sou
professor a favor da luta constante contra a ordem capitalista vigente que
inventou esta aberração: a miséria na fartura".
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